Apoiada ao muro do jardim, a dona da casa iniciou o diálogo com a amiga, exclamando:
- Você viu a roupa do vizinho da esquina? Bem que ele poderia vestir-se melhor!
E continuou a conversa, alinhando censuras e insinuações diversas.
Criticou a limpeza da calçada em frente.
Lembrou o automóvel empoeirado do vizinho da direita.
Ridicularizou a pintura da casa à esquerda.
Verberou a visita demorada, que recebera na véspera.
Comentou as dissensões íntimas de casal conhecido.
Quando já falava por mais de meia hora, percebeu a fumaça e o cheiro de queimado, vindos lá de dentro.
Desesperada, correu logo para o interior da casa e observou surpreendida, que ela própria se esquecera de desligar o ferro de engomar. Esse descuido havia-lhe custado à destruição de algumas peças de roupa e a ameaça de um incêndio.
Não fujamos ao exemplo da discrição e do bem.
Perdidos em sombras de egoísmo e leviandade, deleitamo-nos em censurar a conduta alheia.
Gastamos tempo precioso, esmiuçando a vida do semelhante, sem qualquer consideração.
Contudo, enquanto nos iludimos em tais atitudes, a vida mesma se encarrega de apontar nossas próprias obrigações negligenciadas.
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