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27 de abril de 2012


Primeiros Socorros: Uma questão de cidadania.


Os primeiros socorros são caracterizados por todo tipo de atendimento emergencial que é dado a uma vítima de mal súbito ou de acidente, seja de automóvel, de motocicleta ou de trabalho, de forma imediata e provisória. É imediato porque deve ser iniciado o mais breve possível e o tratamento definitivo será feito no hospital pela equipe médica. Os primeiros socorros são procedimentos básicos e simples que muitas vezes salvam a vida do acidentado, a exemplo de uma vítima que apresenta um sangramento intenso, quando deve-se interromper esta hemorragia colocando uma toalha em cima do ferimento e fazendo uma compressão firme e constante. Também evita o agravamento de lesões e reduz o sofrimento da vítima, como no caso de uma fratura, quando uma imobilização correta e eficiente irá diminuir sobremaneira a dor e evitará uma possível hemorragia interna por lesão vascular.

Durante o atendimento de primeiros socorros nenhuma manobra invasiva, como uma punção venosa, uma injeção intramuscular, ou o uso de medicações é permitido no Brasil por parte dos socorristas. Tais manobras só podem ser realizadas por médicos. Deve-se usar todo o material disponível no local do ocorrido, já que dificilmente instrumental adequado estará disponível.

A fatalidade e a universalidade dos acidentes e problemas relacionados à saúde justificam a ampla divulgação e acesso de um maior número de pessoas aos primeiros socorros. Nem sempre é possível dispor de um médico ou de uma equipe de profissionais qualificados a atender uma emergência. Ajudar ao próximo é uma questão de civilidade, cidadania e humanidade.

Uma característica importante dos primeiros socorros é a perspicácia, bom senso e capacidade de improvisação da pessoa que está prestando o atendimento. O socorrista apto é aquele que sabe dominar as técnicas, tem espírito de liderança, mantém a calma e apresenta sensatez.

A população brasileira, na sua grande maioria, não possui capacitação em primeiros socorros e não sabe que o simples ato de telefonar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para o SAMU (190 ou 192, a depender do estado) é um procedimento de extrema importância e um ato de legítima cidadania. Ao telefonar para pedir ajuda, o solicitante deve ser firme, informar com clareza e precisão o local do acidente, fornecendo detalhes e pontos de referência que facilitem a chegada da equipe de socorro, o número de vítimas, se possível o tipo de lesão e a gravidade das mesmas. O número de trotes recebidos pelos serviços de emergência, principalmente pelo Corpo de Bombeiros, está em torno de 90%, o que inviabiliza e dificulta o atendimento rápido e eficaz.

A omissão de socorro, segundo o artigo 135 do Código Penal Brasileiro consiste em “deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada ou à pessoa inválida ou ferida, em desamparo ou em grave e iminente perigo; não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”. O não cumprimento do referido artigo implica em pena de detenção de 1 (um) ano a 6 (seis) meses, ou multa. Tal penalidade pode ser aumentada na metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada se resulta em morte.

Nos países desenvolvidos o ensino de primeiros socorros é priorizado e difundido pela população, assumindo um papel de extrema relevância. Na pré-escola, as crianças são orientadas a telefonar para o serviço de emergência pré-hospitalar quando encontram uma pessoa inconsciente ou necessitando de auxílio médico. Portanto, se a população for capacitada exclusivamente em acessar os serviços competentes de atendimento dando apenas um telefonema, já estaria ajudando a salvar vidas e evitando envolvimento legal. Desta forma, inúmeras pessoas são salvas. A desinformação da população brasileira no tocante à falta de acesso a informações de primeiros socorros repercute diretamente na sobrevida das vítimas. A atuação de pessoas não capacitadas para agir em situações de emergência pode trazer o agravamento ou a produção de novas lesões. Com grande frequência, observa-se, no dia-a-dia, pessoas que são vítimas de acidentes sendo atendidas de maneira equivocada.

A aplicação de medidas corretas de primeiros socorros nos momentos iniciais após o trauma será um fator determinante na recuperação da vítima ou poderá até mesmo significar a diferença entre a vida e a morte. A hora de ouro preconiza que nos primeiros sessenta minutos de ocorrido o acidente a vítima deverá receber os três níveis de atenção. Do minuto zero (momento em que aconteceu o evento) até vinte minutos, a vítima deverá estar recebendo os primeiros socorros. De vinte a quarenta minutos deverá estar recebendo o atendimento pré-hospitalar. De quarenta a sessenta minutos deverá estar em uma unidade hospitalar sendo atendida adequadamente por médicos. O seguimento dessas regras implica em diminuição de 60% da morbimortalidade. Deve-se deixar claro que o atendimento de primeiros socorros não exclui a necessidade de atendimento médico.

O atendimento pré-hospitalar (A.P.H.) é a assistência prestada em um primeiro nível de atenção aos portadores de quadros agudos, de natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente hospitalar podendo acarretar sofrimento, seqüelas ou até mesmo morte. Esse atendimento ocorre a partir da chegada de uma ambulância com socorristas e/ou médico. Para incrementar o A.P.H. no Brasil, o Ministério da Saúde criou o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) que atua em diversos estados. Ao todo são 213 municípios atendidos com um total de 49,2 milhões de pessoas beneficiadas. Este serviço já está sendo prestado nas grandes capitais brasileiras como: São Paulo, Recife, Natal, Fortaleza, Belém, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Aracaju, João Pessoa, São Luís, Teresina e Palmas. Em Salvador, o projeto está em fase de implantação e funcionando de forma parcial. O Ministério da Saúde, através da Política Nacional de Atenção à Urgência, pretende implantar o serviço em todos os municípios brasileiros, desta maneira atendendo as diretrizes de regionalização às urgências.

Atualmente, vivemos em uma sociedade violenta e desenvolvida do ponto de vista da mecanização onde o ferimento por arma branca arma de fogo, acidentes de carro, atropelos e acidentes de trabalho são cada vez mais frequentes. O trauma assume proporções endêmicas e desastrosas, diminuindo a força produtiva da sociedade, aumentando os gastos com internação hospitalar e, dessa forma, onerando o estado e tirando vidas de pessoas em franca idade produtiva. O trauma é a terceira maior causa de mortes no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares que assumem a primeira colocação e o câncer que é a segunda maior causa. Sendo que nas quatro primeiras décadas de vida é a principal causa de mortes. Quanto à mortalidade, o trauma é uma doença com distribuição tri modal. O primeiro pico de morte ocorre dos segundos iniciais a alguns minutos com lesão de vasos calibrosos e importantes, lesões cerebrais e de órgãos vitais. O segundo pico leva a morte em poucos minutos até a algumas horas após a lesão. No terceiro, a incidência ocorre após vários dias prolongando-se até semanas após o trauma, com falecimentos consequente a infecções, complicações pós-traumáticas e pós-cirúrgicas.

A educação em primeiros socorros e a prevenção de acidentes é a forma mais efetiva e econômica de evitar tais transtornos. Pra cada real gasto com a prevenção economizam-se quatro reais que seriam gastos com o tratamento. Na área de saúde a prevenção apresenta-se como uma importante arma de baixo custo e extremamente eficaz, porém nem sempre utilizada.

Todos os indivíduos já passaram, ao menos uma vez, ou irão passar ao longo de suas vidas por uma situação de emergência onde os primeiros socorros serão extremamente importantes. Desde um simples ferimento, a cortes profundos, crises convulsivas, queimaduras, fraturas, picadas de inseto, mordidas de animais, dentre vários outros problemas como acidentes domésticos e de trabalho que ocorrem diariamente. Com o atendimento adequado de primeiros socorros é possível colocar o paciente em melhores condições para o transporte e para receber o tratamento definitivo. Os primeiros socorros caminham de mãos dadas com o A.P.H., já que fazem parte de uma sequência lógica de atendimento: Primeiros Socorros – Atendimento Pré-Hospitalar – Atendimento Hospitalar. Nos países desenvolvidos, o conhecimento do A.P.H. e dos Primeiros Socorros assumem papel de destaque entre os órgãos responsáveis pela saúde, bem como a aceitação e participação por parte da população que se preocupa em aprender e a difundir estas noções. No Brasil, recentemente surgiram alguns serviços de A.P.H. com a privatização de rodovias estaduais e federais trazendo a necessidade de profissionais bem treinados e capacitados para atuarem neste tipo de situação que difere sobremaneira do atendimento hospitalar, que é feito em instalações adequadas e com toda infraestrutura apropriada ao tratamento do acidentado. A interferência dos atendimentos de emergência bem feitos na morbimortalidade vem sendo comprovada nos hospitais, notando-se acentuada redução dos índices de morte e invalidez nos pacientes que foram adequadamente atendidos no pré-hospitalar.

A necessidade de disponibilizar o ensino de primeiros socorros como disciplina nas faculdades, principalmente da área de saúde é premente. Em Salvador, das duas faculdades de medicina existentes, apenas a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (E.B.M.S.P.) dispõe da disciplina na sua grade curricular. Já as faculdades de enfermagem, educação física e fisioterapia dão ênfase a referida matéria. Uma outra maneira de informar a população é através de atividades de extensão, levado tais conhecimentos ao público leigo, a exemplo do que vem ocorrendo na E.B.M.S.P. desde o ano de 2000 com a criação do Projeto Primeiros Socorros Para Todos. Levar noções importantes do socorrismo, ensinando manobras básicas e vitais de forma clara e objetiva, bem como orientações sobre prevenção de acidentes a moradores de bairros carentes, escolas e diversas instituições da R.M.S. (Região Metropolitana de Salvador) tem sido o objetivo do referido projeto. Já foram capacitadas, aproximadamente, 2.550 pessoas desde a sua implantação.

Agindo desta maneira assume-se, com dedicação, a responsabilidade perante a sociedade bahiana, na medida em que se promove a socialização dos conhecimentos médicos de modo a contribuir com o futuro e a prosperidade da população. São formados agentes multiplicadores de informação evitando, assim, que os ensinamentos adquiridos fiquem restritos ao meio acadêmico.

O profissional, que atua no universo da saúde, pode e deve contribuir com o combate a doenças, diminuindo os índices de morbidade e mortalidade e ajudando a multiplicar orientações sobre cuidados básicos bem como medidas preventivas para a população em geral.

A questão da responsabilidade social extrapola as questões legais da profissão na área médica e de saúde. Envolve o lidar com o salvar vidas, o amenizar sofrimentos, o garantir dignidade para enfermos e qualidade de vida a que tem direito todo cidadão, independentemente de sua condição social, econômica ou racial. Agir de maneira socialmente responsável requer um compromisso de corpo e alma do profissional com o exercício de sua profissão. E é a forma de se adquirir o respeito das pessoas, comunidades e instituições envolvidas ou beneficiadas pelo impacto positivo das ações.

De maneira global, a atuação socialmente responsável das pessoas que escolheram a área de saúde (estudantes e profissionais formados) contribui para a construção de uma sociedade mais saudável, justa e próspera.

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